Empresas Vão Precisar de Gestão Financeira na Reforma Tributária de 2026

Top view of group of business people colleagues discussing financial charts sitting on couchs in lobby at modern business center indoors

Por: Lucas Silva – Especialista Tributário

Sabe aquele ditado popular que diz que “se não tem pão, que comam brioches”? Pois é, no mundo dos negócios brasileiros, o ditado é outro: “se não tem lucro, que se vire com a burocracia!”

Se você já me acompanha, sabe que a Reforma Tributária, que começa a ser sentida de verdade a partir de 2026, é o elefante na sala de reuniões. É um monstro de sete cabeças que promete, no longo prazo, simplificar a vida de todos nós, mas que, na transição, exige de cada empresário uma revolução interna.

E de todas as áreas do seu negócio, aquela que sentirá o maior impacto, a que precisa de um “upgrade” imediato, não é o seu RH, nem o seu marketing… é a sua gestão financeira.

Eu sei, a gestão financeira é vista por muitos como aquele primo chato que só aparece para cobrar. Mas, meu amigo empreendedor, com as mudanças que o novo Imposto sobre Valor Agregado (IVA Dual), formado pelo IBS e pela CBS, trará para o cenário brasileiro, a gestão financeira deixa de ser um luxo ou uma obrigação contábil, e se torna, sem exagero, a estratégia de sobrevivência do seu negócio.

Permita-me compartilhar minha experiência de trincheira. O que está por vir não é apenas uma troca de guias, é uma mudança de paradigma que exige que você, gestor, vista a camisa do estrategista financeiro. Por isso, a pergunta central deste nosso papo é: Por que empresas vão precisar de gestão financeira com a nova Reforma Tributária de 2026, e como você pode sair dessa história como um vencedor, e não como uma vítima da complexidade? Vamos mergulhar!

grande mote da Reforma é a Não Cumulatividade. Em tese, é ótimo! Significa que o imposto pago em uma etapa da produção pode ser compensado na etapa seguinte, evitando o famoso “imposto sobre imposto” (o efeito cascata).

O problema mora nos detalhes. Para que a não cumulatividade funcione, sua empresa precisará ter um controle cirúrgico sobre cada centavo de imposto pago em suas compras.

A Dança dos Créditos e a Decisão do Simples Nacional

Até hoje, muitas PMEs do Simples Nacional se contentavam em pagar o DAS e pronto. Fim de papo. A gestão financeira era relativamente simples no aspecto tributário, justamente porque a maior parte da empresa não se preocupava em tomar crédito – afinal, não podia.

A partir de 2026, com o aumento da alíquota do IVA (estimada em torno de 26% a 28%), o crédito se torna um ativo valiosíssimo.

  • Para quem está no Regime Normal (Lucro Real ou Presumido): A gestão financeira precisa ser impecável para garantir o aproveitamento de crédito amplo de IBS e CBS. Qualquer erro na classificação da Nota Fiscal de entrada pode custar uma fortuna em impostos não creditados. É aqui que o famoso “contas a pagar” ganha uma dimensão estratégica que beira a espionagem industrial. Você precisa monitorar a saúde fiscal de cada fornecedor!
  • Para quem está no Simples e vende para o B2B: Se você decidir pela opção híbrida (recolher IBS/CBS separadamente para gerar crédito aos seus clientes), a complexidade explode. Sua gestão financeira precisará conciliar dois regimes: o Simples (via DAS) e o Regime Regular (para IBS/CBS). É como ter dois caixas no mesmo negócio!

A Lição da Experiência: Não subestime a necessidade de documentação. Na era do IVA, se o seu controle financeiro não comprovar a origem e a destinação de cada insumo, o fisco simplesmente vai ignorar seu pedido de crédito. A famosa “nota fiscal perdida” pode custar o lucro de um mês inteiro.

Se eu pudesse te dar um conselho gritando, seria este: Sua antiga planilha de precificação está obsoleta!

O preço de venda é o ponto nevrálgico da Reforma Tributária. Com a mudança de impostos na origem (ICMS, PIS/COFINS) para impostos no destino (IBS/CBS), a estrutura de custos de produtos e serviços muda radicalmente.

A Grande Virada do Setor de Serviços

O setor de serviços é o mais vulnerável. Empresas que pagavam ISS (de 2% a 5%) e PIS/COFINS (3,65% no Presumido) agora encaram uma alíquota cheia que pode ser seis ou sete vezes maior!

A gestão financeira precisa fazer uma análise de impacto minuciosa para:

  1. Reajustar Preços de Venda: Repassar a nova alíquota nominal (ou a alíquota com desconto de 60% para setores específicos) sem perder competitividade. Isso não é só matemática; é estratégia de mercado.
  2. Analisar a Viabilidade de Setores: Alguns serviços, com pouca margem de crédito, podem se tornar inviáveis no novo regime. O gestor financeiro precisa ser capaz de identificar se é hora de reestruturar a oferta, focar em nichos com alíquotas reduzidas ou até mesmo migrar para outras atividades.

O Toque Pessoal (e Cômico): Se antes você precificava “no chute” ou olhando o concorrente, a partir de 2026 essa tática será tão eficaz quanto tentar tapar o sol com a peneira. O fisco não aceita “achismos”. Sua gestão financeira precisa ser o Sherlock Holmes da sua empresa, investigando cada custo para garantir que o preço final seja justo, competitivo e, acima de tudo, lucrativo.

Ah, o fluxo de caixa! O coração do seu negócio. É a ele que a Reforma Tributária dará o maior susto, especialmente com o novo mecanismo de arrecadação: o Split Payment (Pagamento Separado).

O Imposto que Não Passa Pela Sua Conta

O Split Payment é a cereja do bolo da complexidade inicial. Basicamente, os impostos (CBS e IBS) serão descontados automaticamente no momento da transação, antes que o dinheiro chegue à sua conta. Em outras palavras, o governo pegará a parte dele no ato.

Desafio Imediato para a Gestão Financeira:

  • Previsibilidade Reduzida: Você não terá mais o dinheiro do imposto passando pela sua conta por um período. O valor que entrará será o líquido (já descontado do IBS/CBS). Se você está acostumado a pagar contas com “o dinheiro do imposto” (sim, muitos fazem isso, infelizmente), esse hábito precisa morrer agora.
  • Controle Rigoroso: Sua gestão financeira precisa se adaptar para prever o fluxo de entrada de caixa líquido. Você terá que calcular, com antecedência, o valor bruto da venda, o desconto automático do IBS/CBS, e só então o valor que de fato estará disponível para suas despesas operacionais (salários, aluguel, fornecedores não creditáveis).

A Palavra-Chave é Antecipação: O Split Payment não permite mais que o empreendedor postergue o pagamento de impostos. É no ato! Sua gestão financeira precisa garantir que os créditos a serem tomados também sejam apurados e compensados rapidamente, para evitar um impacto negativo no capital de giro. É um ciclo que exige velocidade, tecnologia e, acima de tudo, governança.

Com a Reforma Tributária, o contador deixará de ser aquele profissional que apenas emite guias e passa a ser, obrigatoriamente, um consultor estratégico. Mas para que ele possa te ajudar, sua gestão financeira precisa entregar dados confiáveis.

O Divórcio da Contabilidade e do Financeiro (e a Reconciliação Urgente)

Muitas empresas operam com o financeiro em uma ponta (controlando o caixa) e a contabilidade na outra (lançando dados retroativos). Na era do IVA e do Split Payment, essa separação é um convite ao erro e, pior, à multa.

  • Exigência de Dados em Tempo Real: A nova sistemática exige que a contabilidade e o financeiro estejam integrados. Qualquer divergência entre o que o sistema de gestão registrou e o que o fisco apurou automaticamente via Split Payment será um sinal vermelho.
  • Investimento em Tecnologia: Sua gestão financeira precisa de um ERP robusto, que se adapte às novas regras de classificação, que integre a emissão de notas com o controle de estoque e o fluxo de caixa. O custo de um software eficiente será, de longe, menor do que o custo de uma multa por inconformidade fiscal.

O Empurrão Inspirador: Olhe para 2026 não como o ano da punição, mas como o ano da sua profissionalização forçada. A necessidade de uma gestão financeira impecável vai te dar a clareza que você sempre precisou: para onde o dinheiro está indo, qual produto é realmente lucrativo, e qual cliente está te dando prejuízo. O governo nos empurrou para a eficiência; cabe a você aceitar o desafio.

Eu sou especialista em tributos, mas confio plenamente na sua capacidade de adaptação. O empreendedor brasileiro é um mestre nisso!

A nova Reforma Tributária de 2026 é mais do que uma mudança fiscal; é uma prova de fogo para a maturidade de gestão das empresas. Ela nos força a sair do amadorismo e a abraçar a governança.

A gestão financeira não é mais um departamento de apoio; é o motor de decisão. Ela que vai definir:

  1. Se você fica no Simples ou migra para o Híbrido.
  2. Se o seu preço de venda é sustentável ou uma ilusão.
  3. Se o seu capital de giro aguenta o Split Payment.
  4. Se você está aproveitando todos os créditos possíveis do novo IVA.

O recado é claro: O tempo de deixar o controle financeiro na gaveta ou para a última hora acabou. Invista em tecnologia, treine sua equipe, e eleve seu contador ao patamar de parceiro estratégico. A sobrevivência e o crescimento do seu negócio dependem disso. O futuro do empreendedorismo no Brasil passa pela excelência na gestão financeira. Vamos juntos nessa!

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